26 dezembro 2006

curto-circuito














no escorrendo do
escapamento
a água se esvai
pelos caminhos lentos

minh'agua seca
se'ncontra com teu
umedecer
e'ncurta o circuito
enquanto curto teu circuito
de curvas e delitos
a alimentarem meu envaidecer



Keila Sgobi
26/12/2006

05 dezembro 2006

50 anos...

meio século de confusões,
encontros e desencontros
certezas e incertezas
caminhos e descaminhos que se cruzaram e descruzaram vezes e mais vezes...

meio século que desacreditamos
: os pais sempre têm 35 anos
para sempre

só as fotos desmentem os cachos que enxergamos
a fartura de cabelos pelo couro
o corpo arredontamente longilíneo

uma distorção da realidade com raízes na nossa infância
de violões e bicicletas e chocolates e suspresas...
e músicas...
e churrascos...
e lutas e ajudas e buscas

uma vida que não existiria sem todas as outras
tantas outras que não existiriam sem esta vida

e este foi apenas um pequeno recorte deste caminho cheio de pedras
de chão batido ou estrelado
parte dele sabemos que está aí dentro
e que faz parte de nossos caminhos


e com o seu,
os nossos nunca mais serão os mesmos...


Keila Sgobi

homenagem ao meu pai em virtude de seu meio-centenário: 05/12/2006

29 novembro 2006

Poema a 9 mãos

à luz de águas paulistanas...


A chuva cessou
No peito alegre da menina
Triste
Mas as poças ficaram
Nas moças coisas ficam
Espelhando o novo céu que se abre
Espalhadas pelo chão, nesgas e nuvens
Que refletem mais que meu rosto
Desgosto, dizem, infiéis tormentas
Lamentos pelo caos que a tempestade
Deixou
Tantas rachaduras no asfalto
Tantas poças inspiradas pela chuva
Que o mundo escorrem
E escorrem...
Por dedos descuidados
Por vidas que se correm
Nos tempos que nos morrem
Pra chovermos noutras bandas
Umidade do mundo, por onde andas?


poema criado em conjunto pelos participantes do
Primeiro Encontro de Poeblogueiros Rio-SP

( por Czarina, Fejones, Ellemos, Keila, Lasak, Marla "Vlap", Octávio Roggiero, Tahkren, Sandra e Jardim)
26 de Novembro de 2006

26 novembro 2006

Amedrontada

e com o nome de
namorado
o peito bateu
apertado
a felicidade
anunciada
não dormiu na
madrugada
com medo de ser
invejada
e escorrer
pela enchurrada


da Série "O copo está metade cheio ou metade vazio?"



Keila Sgobi
21/11/2006

19 novembro 2006

I (?) Encontro de Poeblogueir@s de São Paulo

Queridos e queridas,
convido-@s a participar do Encontro de Poeblogueiros (estes seres que escrevem poesias e prosas e publicam em sites da internet) em São Paulo. Vamos andar, beber, conversar, dar risadas e, quem sabe, poetar um pouco...
Data: 26 de Novembro de 2006
Horário: 15 horas
Ponto de encontro: Catraca do Metrô Trianon-Masp (linha Verde do metrô)
De lá, sairemos em caravana em direção as nossas vidas.
Como chegar: Pegue qualquer ônibus que passe na Av. Paulista. As opções são inúmeras. Mais informações: www.sptrans.com.br (Clique em Itinerário e em Nome da Via).
Se preferir, vá de metrô. Se vier da linha Vermelha (Corinthians-Itaquera / Palmeiras- Barra Funda), faça baldeação na Estação Sé, embarque na linha Azul sentido Jabaquara, desça na estação Paraíso e faça baldeação para a Linha Verde em direção à Vila Madalena. Então, desça na estação Trianon-Masp e nos aguarde na catraca!
Dúvidas? Comentem!
Eu e Czarina (Nath) esperamos por vocês!!!

16 novembro 2006

Consciente do fim
permito-me gozar
de pequenos momentos de prazer
que nunca serão mais
do que momentos de prazer.


Keila Sgobi
16/10/2005

08 novembro 2006

dssssssleixossss





no encontro dos beijos
bocas-corpos
corpos-eixos
de teus lábios e enleio
só sentia meu cheiro







Keila Sgobi
23/10/2006

29 outubro 2006

20 de Junho de 2001 – A Gênova Universal

A Carlo Giuliani (in memorian)
e todos os anarquistas mortos em combate

Amanheceu o dia.
Milhares de pequenos jovens guerreiros acordaram
de seus doces sonhos
de seus terríveis pesadelos.

Uma noite dormida ao som das gotas da chuva que previa uma tragédia.
Chorava ela sem que percebêssemos
o que lhe despertara tanta dor e sofrimento.


A aurora nos saúda.
Nem parecia que a noite fora tão fria,
Mas as lâminas douradas ainda não aqueciam aqueles corpos.

Meninos e meninas se preparam para uma batalha de paz.


Escudos de plástico,
Armaduras de espuma,
Máscaras
Panos cobrindo os rostos
Como elmos abençoados
E impenetráveis.

Éramos mais ingênuas crianças
Vestindo-se para uma brincadeira
Do que os verdadeiros guerreiros que representávamos
Naquele momento.


Todos às ruas,
Homens e mulheres
Meninos e meninas.

Queríamos penetrar a zona vermelha
Com nossa alegria
Com nossa esperança
Com nosso desejo de mostrar ao mundo
Que somos todos únicos
E unos.


Um som invade o espaço.


Não são os nossos gritos
Instrumentos de comunicação
Tentando manter a organização de nosso corpo
- milhares de células individualizadas
que não precisavam de muito para se compreenderem:
todas tinham o mesmo objetivo.

Não são nossos passos
Ora lentos
Ora agitados
A avançarem a cidade
Tomando praças.

Nem nossos cantos amigos
Que pediam paz
Igualdade
Solidariedade
Compreensão.

Cassetetes batendo em escudos
Uma música terrivelmente ritmada
Como o ribombar das trombetas anunciando a morte.

Cada batida
Dois passos

Cada batida
Dois passos.

Helicópteros.
Bombas zunindo em nossos ouvidos
Uma confusão de informações
Ir
Ficar
Recuar

Nossa vista embaciada
Fumaça.


Tentamos manter a unidade
Mas o ataque é maciço:
Frente
Retaguarda
Laterais:
Todos e todas encurralados e encurraladas
Não havia fuga:
Sofrer
Ou
Sofrer.


Animais no abatedouro.
Indefesos.


Nossas armas?
Nossos escudos:
Roupas
Peles
O amor, a solidariedade e a vontade que nos movem.

A deles?
Gazes,
Cassetetes
Armas de fogo...


Não.
As pessoas não compreendem.
Elas não querem compreender.

Não sabem.

Não querem se enxergar em nosso rosto cheio de vida!


Pedras lutam contra tudo e todos
Parece a Idade da Pedra.


Ansiedade
Desespero
Medo.


Nenhuma violência era aguardada por aqueles que só queriam algo simbólico.
Um senhor coberto por uma bandeira branca.
Uma garota com flores
Um garoto com balões coloridos
Como aqueles que empunhávamos nos parques
Durante nossa infância,
Nem que não fossem nossos...
Tentando semear a felicidade do aqui-agora.


Não.

Não era isso que eles queriam
Precisavam expiar seus males
Seus temores
Mostrar sua incapacidade de compreender o que é viver
Querer viver
Viver.


Um estrondo.
Um tiro.

Não!


Um garoto.
Sua face escondida por uma touca.


Uma bala atravessa nosso rosto.

Um tapa na cara.
Um buraco em nossa alma.

Entretanto, o coração ainda pulsa.

Pensam que estamos mortos.
Torturam-nos
Xingam-nos.
Dizem asneiras alienadas sobre nossos corpos.

Tudo ouvimos
Tudo sentimos
Tudo choramos.

Mal sabem eles.

Uma morte concreta
Diversas perdidas pelo mundo.

Junto daquele italiano
Sem rosto
Mascarado
Vestes simples
Morreu um pedaço meu
E seu.

No entanto,
Estão todos eles pela completude.
Cada qual em seu espaço
Unindo-se a um todo
Inconscientemente organizado.

Keila Sgobi

27/10/2002



21 outubro 2006

resignação

Ouço teu poema cabisbaixa
Temendo ver em teus olhos
Que não sou a pessoa amada


Keila Sgobi
12/09/2006

14 outubro 2006

descaminhos


vejo teus olhos brilhando no sorriso da garoa fina
acompanham gota a gota os caminhos que se encontram no asfalto

diluída em teus pensamentos, estou em cada traço e em nenhum
não há mais norte, certezas, eternidades
só a potência de se viver novas possibilidades

e se o rio de meu pranto não é seguro
relaxa-te sobre as águas que te sustentarei
enquanto minh'alma tiver fôlego




Keila Sgobi
13/10/2006

10 outubro 2006

Ilusão

A chama secou
perdeu sua vitalidade
procurei-a em seus olhos,
cabelos, identidade
Descobri que tudo aquilo
era só publicidade

Keila Sgobi

03 outubro 2006

Encaixe

O reconheço pelo cheiro
levado pela brisa
encontrando
:Aconchego

Encaixo os cachos em seus ombros
os lábios em seu rosto
o abraço em todos os traços

Me desfaço em sorriso
Intocado, inalterado
Rijo com sua presença
Esculpido e estampado

Eu me aqueço, me enrubesço
Perco a noção do tempo
Encontro-me no úmido de seus olhos
Nos seus lábios, meu desejo

E mesmo envolta
Completante-completada
Sou parte sem parelha
A sua já foi encontrada


Keila Sgobi
02/10/2006







29 setembro 2006

Lembranças de Infância...

"João Lei-va
mãos à obra
que nós confiamos em você...

Mais ação, mais segurança
João Leiva, nós estamos com você"



"Lá lá lá lá lá... Brizoooola!
Lá lá lá lá lá... Brizoooola!
O voto no Brizola
Só pode nos trazer
Um tempo bem melhor pra se viver"




"Ei, Ei, Eymael
um de-mo-cra-ta cristão
Para presidente do Brasil
Queremos Eymael
Pela família e pela nação".




"Lula lá
brilha uma estrela,
Lula lá
cresce a esperança
Lula lá
num Brasil criança
na alegria de se abraçar

Lula lá
com sinceridade,
Lula lá
com toda a certeza
pra você
meu primeiro voto pra fazer
brilhar nossa estrela

Lula lá
É a gente junto,
Lula lá
valeu a espera
Lula lá
meu primeiro voto pra fazer
brilhar nossa estreela.."



Quem mais?????

23 setembro 2006

Medo

Enquanto tu lias minha poesia
Carregada de amor
Cabisbaixa, eu temia
Que descobrisses ser o ator


12/09/2006
Keila Sgobi

14 setembro 2006

Comunicação?

Lábios entreabertos só dizem
meias-palavras de amor
o surdo-poeta só ouve
alguma coisa sobre dor


Keila Sgobi
13/09/2006

09 setembro 2006

escolhas

Com tantos caminhos a seguir
Perde-se a noção do caminhar
Parte dele vai adiante, sem parar
A outra fica, a remediar

O percurso do sangue está dado:
pelas artérias e veias correr
O problema é o coração parado,
Que insiste em não bater

No movimento perpétuo
O sangue continua jorrado
Preenchendo seus espaços
Sem nenhum significado

Cansado desta vida
De bater descompassado
O coração amuado
Deu uma de revoltado:
Deixou de bater ritmado
E morreu descansado.


Keila Sgobi

09/09/2006



(Copyleft)

07 setembro 2006

Inverno

Neste frio silente
que a natureza emana
sinto falta de alguém que ame
e, à noite, aqueça minha cama.


Keila Sgobi
06/09/2006

(Copyleft)

06 setembro 2006

_scendo...

O Sol está se apagando...

O Sol está
se apagando...

O Sol
está se
apagando...

e ninguém acende as luzes

- Eu não quero dormir!

O Sol
está se
apagando...
gradualmente
pausadamente
paulatinamente...

O Sol
está se
apagando

e o Pico *
verde-muzgo
ficando
mais escuro
sendo...

E o Sol
vai se
apagando...


Diminuo a
velocidade

- Não quero dormir
quero ver o Sol
se escures[c]endo
se recrudescendo
se escondendo...

E o Sol
vai se
indo...

O Pico
cada vez mais
perto
cada vez mais
preto

no escuro-
sendo,
sua luzinha
pisca...

pisca...

pisca...

pisca...

pisc...

pis...








Keila Sgobi
05/07/2006


(copyleft)

02 setembro 2006

Mundo aquático

Num pequeno aquário,
golfinhos nadam 100 peito
como girinos




Keila Sgobi
02/09/2006

(Copyleft)

28 agosto 2006

Isto não é um poema...

...ma[i]s um dia ensolarado
de nuvens caminhando ao meu lado
sem destino, em solidão

um dia inusitado
em que questionei meu estado
talvez chegando a alguma conclusão

sonhei ler meu caminho escrito
sem previsões em desalinho
ou compassos de dor e confusão.
vislumbrei meu presente
pretensões existentes
alegrias sem um senão

sem me aperceber da vida
ceguei-me perante as conquistas
esfomeei minha auto-estima

tão jovem alcancei alguns fins
sem me dar conta pra não me perder.
que seria de mim se o Sol quisesse atingir
e em minha casa ele viesse morrer?


vou me deixar ao vento
planando sem direção
desfrutando das conquistas
para que não escapem de minhas mãos...

...mais mil dias ensolarados
nuvens, frio e trovão
chuvas a lavarem as calçadas
flores a perfumarem o coração

mais mil dores jogadas pela calçada
mil vezes mil dias de solidão
mil vezes mil momentos de alegria
multiplicando a amplitude de percepção


Keila Sgobi
28/08/2006

(Copyleft)





20 agosto 2006

Histórias de pescador

poema a três cabeças

I

Dom Serapião plantava girassóis albinos

que dançavam à luz do céu
seguindo as estrelas
a seguir Dom Serapião

II

Os cachorros pestanejavam

girando num movimento florestrelar
ao redor das árvores sem pestanas
recostando à sombra seca

III

Naquele vazio infinito

infinito até dizer chega
chega a hora de parar
parar e fechar a luneta


Keila, Nanna e Remo Saraiva

06/08/2006

13 agosto 2006

Uma Rosa de Cristal

por Carlos Alberto Grespan e Genival Barros

Uma rosa de cristal
Brotando no chão
Uma raiz de fogo
no meu coração
E por incrível que pareça
eu choro na partida
Uma rosa de cristal
por mim ferida

Foi tudo isso que eu falei no artigo 6
Na constituição do artigo 3
E da prostituição o que eu vou dizer
Falta café com leite para todos vocês

E vem a turma da pesada do coração frio
Assassina um zé coitado e joga no rio

Foi tudo isto que eu falei no artigo 6
da corrupção do artigo 3

e da corrupção o que eu vou dizer
falta isto falta aquilo falta até você

E o culpado disto tudo é você zé
Não adianta mais chorar por você zé
Vai pagar todos os imporstos para entrar no céu
quem mandou escrever tua sorte com aveia e mel
e o culpado de tua morte é você zé

E o mundo morreu na hora certa
Certo que renasceria
Mas não renasceu
Na hora certa, zé, na hora certa


Obs.: Uma homenagem ao meu pai, seu Barros.

12 agosto 2006

Matuto na cidade

Anuviô
e os zóio marejô
c'um orváio que caiu
quando a noite se findô

esfriô di arrepiu
já nem vejo nosso sinhô.

Keila Sgobi
31/07/2006

(Copyleft)


Ps.: As coisas que o Pedrinho faz...

03 agosto 2006

No cio (ou o verdadeiro amor)

Curvada de dor,
agachei-me no meio-fio
observando uma totó sentada
que olhava para o vazio

Nossos olhares se cruzaram
e a cadelinha compadeceu-se de minha dor

Levantando-se a abanar o rabo
em minha direção caminhou,
entrelaçou-se em meus braços
e minhas mãos beijou

mesmo com sangue em meus lábios
tranquilizei-me com tanto afeto e amor


Keila Sgobi
03/08/2006

(Copyleft)

30 julho 2006

Boa Menina

A menina boazinha
perdeu a voz
para encontrar seu silêncio

Keila Sgobi
22/07/2006


(Copyleft)

27 julho 2006

Trocas III

Guarda meus
poemas
como tua ermida
junto às lembranças
deste beijo de
despedida.

Aqui deixo
lascas
de um amor de
minha vida.


Keila Sgobi

21/07/2006

(Copyleft)

24 julho 2006

Trocas II

Doei-lhe toda a minha
poesia
e roubei o beijo
que nunca me
daria


Keila Sgobi
21/07/2006

(Copyleft)

22 julho 2006

Trocas I

Poeta,
deixa de teus lábios
eu tirar uma
lasquinha?

Juro,
sempre fui
uma boa menina.


Keila Sgobi
21/07/2006

(Copyleft)

20 julho 2006

O Chamado

No fundo mais
profundo
meu mundo se
esconde
e responde
à chamada da
morte.

15/04/2003

(Copyleft)

15 julho 2006

Manhã de Lua

Que cor estranha de amanhecer
cor de bola-de-fogo reluzente
para aquecer a cidade gelada
e queimar-lhe os horrores e dores
diuturnos

Relâmpagos cortam o horizonte
tomado por um cinza-chumbo
apocalíptico.

É o caos!

A chuva lavou a cidade para seu derradeiro fim

A luz amarela fica cada vez mais
forte
o horizonte-chumbo cada vez mais
próximo
o fim cada vez mais
real
enquanto humanos-formiga
zumbizando pelas ruas
dirigem-se à morte cotidiana

------------------------------------------------

De repente, o amarelo torna-se
violeta
que torna-se
lilás
reanimando o dia de céu
enraivecido
de face reluzente, sem
ouvir o estampido

e as formigas-zumbis
continuam seu caminho
enquanto o horizonte-limbo se apresenta
cada vez mais
próximo

-------------------------------------------------

Tipim fica aguardando a água da
chuva
para lavar os pensamentos da noite
imunda
e observar os raios que poderiam rachar-lhe a
cuca


Vêm as primeiras gotas da chuva
umedecer a rua soturna


Keila Sgobi
11/07/2006


(Copyleft)

08 julho 2006

Reencontro 2


Naquele abraço de saudade
seu cheiro envolveu-me sem humildade
Os olhos lacrimejavam de felicidade
por novamente te encontrar.

O abraço forte incompreendido
foi dado sem nada julgar
Queria apenas sentir comigo
o corpo que não hei de tocar.

Mas eis que nada está perdido
Nenhuma outra em seu coração há
Surge o sonho nunca esquecido:
daquele beijo você me dar.


Keila Sgobi
28-30/08/2004


(copyleft)

06 julho 2006

Cristo


Se cristo fosse
encontrado,
dissecado
estudado
e descobrissem que foi
demente
que,
inocentemente,
enganou toda a
gente,
que tudo foi
ilusão,
qual seria a nossa
direção?



Keila Sgobi
12/04/2005


(Copyleft)

02 julho 2006

Viagem na casca do ovo do mundo

o ônibus virava de um lado para o
outro

e o céu estrelado o acompanhava
aquela abóboada azulada
toda estrelada
brincando de esconde-esconde
entre rios e vales

trezentos e sessenta graus
me escondiam das estrelas

cento e oitenta
as escondiam de mim

e na gema do ovo
eu balançava dentro da casca
e já nao sabia se era eu que balançava

ou se ela me embalava...

Keila Sgobi
06/06/2005


(Copyleft)

01 julho 2006

sonhe...

fique bem ao fechar os olhos
recostando-se no travesseiro macio
esperando que o sonho que nunca chega
não se torne um momento vazio...


Keila Sgobi
08/09/2005
(Cesta)


(Copyleft)

25 junho 2006

É tudo vazio. Inclusive eu.

Sabe, eu gosto quase nada da Fernanda Young. Nada-nada. É que eu não me identifico com oseu modo de falar, lidar com as pessoas. Não me simpatizo com o seu jeito de ser demonstrado na TV ou coisa que o valha. Minha opinião. É só isso. Mas ouvi pensamentos muito interessantes desta escritora excêntrica. E concordei com eles.
Ela acredita na eternidade do amor. E o amor não é somente aquele amor do casório, é o amar de gostar de estar junto, de respirar junto, de colo, de cuidado, de brigas, carinhos, alegrias, amizades e tudo o mais. Uma mulher de 36 anos já viveu (leia-se sofreu) muitas dores, amores e horrores nesta vida.
O que me deixou mais confiante em meus pensamentos foi sua constatação sobre o ser adulto: ninguém nos avisa que é a pior fase de nossas vidas. A mais difícil e dolorosa. Infelizmente, a mais longa. Se a adolescência lhe pareceu dolorosa, tenha a certeza de que a vida adulta pode ser ainda pior. E eu já começo a vislumbrar o triste futuro.
Desde meus doze anos sei que a vida não é como desejamos e não corresponde ao nosso planejamento. O que esperava ter construído até os 24 anos ainda está pela metade: falta material de construção, um bom designer de interiores, este tipo de detalhe. Desde os 15 não faço planos para um futuro distante. Penso somente a curto prazo: meses, dois anos no máximo. Tem sido o suficiente para não me frustrar em demasia e lidar com as questões de ser humana física e existencialmente.
Pensar deste modo me permite olhar o sofrimento humano que é sempre presente (seja ele do passado ou futuro) e descrevê-lo como percebo, sinto. Esta dor é constante. As pessoas são solitárias, vivem um vazio existencial comparável a um buraco negro que tudo engole, inclusive quem (ou o que) o cerca e, para camuflarem seus flagelos e negarem o fado que construíram, protegem-se com uma casca oca que reluz falácias envolventes.
Anorexia. Bulimia. Vigorexia. Depressão. Estresse pós-traumático. Síndrome do Pânico. Câncer. Dermatites. Por dentro e por fora adoecemos para evitarmos o contato consigo e com o outro. Conhecer o próprio vazio é imensamente angustiante. O mais (in)sensato continua sendo negar. Esconder. Tapar. Ignorar.
Se ser poeta é negar esta existência, eu nunca fui poeta e nunca serei.
Amém.
"Você sabia que a probabilidade de uma pessoa morrer é maior se o vaso sanitário sob suas nádegas se estilhaçar do que se ela tentar suicídio?"

17 junho 2006

da aurora à solidão


E o dia fez-se noite.
O sol que animava as flores encolhidas
se foi.

Os pássaros se recolheram,
Estranhos ao anoitecer
Antecipado.

Nada era compreensível
Um vento frio começou a cortar a pele das crianças que brincavam nas ruas.
Todas assustadas.

Não ventara,
Não chovera,
Não chorara o dia todo.

Mas um ar sombrio e triste
Triste e sozinho
Animara-se repentinamente.


A noite escureceu
Despedindo as estrelas e a lua
Que tanto a incomodavam.

Sozinha, a menina sorria

Sorria ao vê-lo amar
E ser amado.

Mas as palavras são sempre mais afiadas que a espada
E a felicidade tornou-se tristeza
E o amor tornou-se solidão.

Seus doces olhos se umedeceram
Sem deixar que uma lágrima escorresse

E o dia fez-se noite
Sem fim de tarde colorido
Sem estrelas reluzindo
Cem noites de solidão.


Keila Sgobi de Barros
13/03/2005


(Copyleft)

16 junho 2006

O menino

A criança olha para um lado
para outro,
para o pai,
onipotente,
sentado ao seu lado
e coloca,
disfarçadamente,
o dedinho no nariz.

Gira para a direita,
para a esquerda,
vai fundo...
Retira o dedinho
e desce,
vagarosamente,
para a boca.

Chupa o dedinho,
raspa com os dentes.

Então,
olha para o pai novamente
e repete o ato
inocentemente.

Keila Sgobi

25/06/2001

(Copyleft)

15 junho 2006

temor

E eu sempre temendo
abrir os meus braços
envolver-te como tentáculos
agarram para sobreviver

escorregar minhas mãos
e sentir-te corpo inteiro
reconhecendo, sem exageros,
seus caminhos sem contra-mão

cheirar-te o rosto
provar-te o gosto
viver em gozo
ser abandonada pela manhã

meu desejo de engolir-te
e, quem sabe, possuir-te
para beijar-te, agarrar-te
e sentir-me plena de amor

sempre temendo, eu temi
e nada pude impedir:
perdi teu corpo, teu cheiro, teu gozo
pago com a alma o preço do meu temor.


Keila Sgobi
02/02/2006

(Copyleft)

14 junho 2006




"Deitei-me sobre teu peito
e ouvi algo estranho...
tum-tum
tum-tum

Olhei-te.

O olhar
plácido,
concentrado em meu
rosto.

Não compreendi.

Deitei-me,
novamente,
sobre teu corpo.
E o som se repetiu:
tum-tum
tum-tum.

Perguntei o que te afligia.
Respondeste-me com um beijo.

E fiquei a ser beijada,
ouvindo as batidas
de teu apaixonado coração
que faziam tremer meu corpo
minha alma
minha razão."


Keila Sgobi

(Copyleft)

10 junho 2006

Nosso canto...

"Meu canto é meu canto
ao querer estar em teu canto.
encantada pelo teu encanto, eu canto
ao encontro do nosso canto"

Prevejo nosso canto
acariciado pelo vento de nossas asas
semeando os quatro cantos
desta terra mal fadada

asas que revoam juntas
por este concreto separadas
ecoando nossas vozes
nesta dolorosa jornada
propagando o amor poético

nosso canto imortal


Keila Sgobi
10/06/2006


(Copyleft)
Leia também "nosso canto", de Octávio Roggiero Neto.

08 junho 2006

Ao meu amigo Poeta

por nós, em uma tarde de outono...



Às vezes,
um pássaro abre a porta de nossa
gaiola,
estende-nos as asas
e nos convida a
voar...

Porém,
não podemos enxergar
e permanecemos a
esperar...


Keila Sgobi
(Octávio Roggiero Neto)

junho/2006


(Copyleft)

04 junho 2006

Ao meu poeta...

Censurado.

Mudei de idéia.

Precisa de importantes retoques que sou incapaz de realizar agora.

Solidão

Solidão.

Uma voz
ausente
do outro lado da
linha.

Frio latente
Solidão presente.

E minh'alma se resfria
do amor que sentia...
E chora,
pois ainda sente.


Keila Sgobi

(Copyleft)

26 maio 2006

Cora

Ela olha
e se cora
Cora-colorida
na hora da saída.

Ele namora,
então não olha
Lev'embora a preferida
mil beijos na despedida.

Cora olha
e descora
finge que não adora;
por dentro, só chora.

Cora olha,
mas não cora
nem descora
apenas, olha
olha
olha...


E sua última lágrima
seca
rola.


Keila Sgobi
16/05/2006

(Copyleft)

20 maio 2006

Corridinho

de Adélia Prado

O amor quer abraçar e não pode.
A multidão em volta,
com seus olhos cediços,
põe caco de vidro no muro
para o amor desistir.
O amor usa o correio,
o correio trapaceia,
a carta não chega,
o amor fica sem saber se é ou não é.
O amor pega o cavalo,
desembarca do trem,
chega na porta cansado
de tanto caminhar a pé.
Fala a palavra açucena,
pede água, bebe café,
dorme na sua presença,
chupa bala de hortelã.
Tudo manha, truque, engenho:
é descuidar, o amor te pega,
te come, te molha todo.
Mas água o amor não é.

18 maio 2006

eu até pensei
- até pensei
em atualizar o poeblog com mais um poemeto
engraçado.

desisti.

o medo não me escurraçou da escola
não me tirou das ruas depois das 23 horas
não me tolhiu o direito de piora

mas estou aqui
olhos abertos
peito pregado de sono
sem respirar
sem respirar
ar.


Keila Sgobi
17/05/2006

(Copyleft)

15 maio 2006

um jogo

o Rei exposto
engana o adversário

em poucas jogadas
Bispos derrubam Torres
Torres atropelam Cavalos
Cavalos deixam a Rainha em xeque

num blefe
o adversário reage
e seus Peões são ameaçados

pânico
trânsito no tabuleiro
mórbido.

Peões correm
correm
correm
e conseguem chegar
sãos e salvos...



e no xadrez
eles jogam xadrez
em tabuleiro terreno
com peças humanas



Keila Sgobi

15/05/2006

14 maio 2006


As águas Celestiais
escorrem pelo vidro da
janela,
enquanto minhas lágrimas
descem pelo meu
rosto.

Cada gota roçando
Cada canto de minha
face...
Regando minha pele,
- toda umedecida.


Meu pranto vai se
calando
com o serenar da
Chuva,
mas meu peito continua a
Estremecer.

Não consigo pensar...
Não explico o porquê,
Simplesmente não posso entender
Porquê hei de ser só,
De magoar quem amo
Para todo o sempre.


Não adianta.
Meu fim é a solidão.


Keila Sgobi

(copyleft)

13 maio 2006

Making of - Dedão Pedra Caminho...

Inspirado em um poema de Drummond e do meu querido Amigo Poeta Octavio Roggiero, se não me engano...

Ele - o poema e o poeta - acabou (acho que acabaram, não?) me inspirando a criar o poe-blog.

É isso.

Keila Sgobi

06 maio 2006

Dedão Pedra Caminho Sapato

O caminho lá
tem suas pedras a enfrentar
por isso usamos sapatos
para dos pés cuidar.

Mas as pedras são espertas
e gostam de amolar
logo encontram um jetinho
de nos incomodar.

Pequeninas, de mansinho
saem a procurar
qualquer buraquinho
no sapato para entrar.

Eis que gasto ou folgadinho
O sapato dá uma brecha
basta somente um passinho
para a morada certa.


Keila Sgobi
maio/2005

(copyleft)

28 abril 2006

na carruagem...

acomodada em carruagem
metálica
avistei o príncipe
- sem cavalo branco -
ao lado de sua princesa,
aguardando outra carruagem
passar

e eu ali,
princesa,
sem príncipe
nem cavalo branco
na fria carruagem metálica
a fitar...


Keila Sgobi

(copyleft)

22 abril 2006

Making of - A minha casa está na minha mala

Novamente,
Angélica me surpreende com sua interpretação.

"I love this game!"

Gosto muito das visões que ela tem de meus poemas, como consegue transcender ao óbvio.

Eu estava subindo a Rua da Consolação e, em frente ao cemitério, vi um mendigo - não o mesmo de flash back, outro. Ele estava sentado e tinha como morada a rua, como abrigo um cobertor e a sua mala. A sua casa era a sua mala.

21 abril 2006

A minha casa está na minha mala

A minha casa está na minha mala.
Lá tem meia, tem calça,
- ela é grande e com alça!
Tem blusa, cobertor,
- mais forte que um trator!
Tem ar, tem vazio
- como a mãe que me pariu
Tem solidão, tem dor
- como neste mundo de horror.

E, sozinho,
na minha casa,
eu vivo perambulando pelas
estradas
procurando algo que
caiba
no vazio da minha
mala.

08/08/2002
Copyleft

14 abril 2006

Making of - À espreita

Bom, não preciso repetir o que aconteceu: está descrito no poema.

Eu era adolescentemente apaixonada por aquele garoto que já tinha a sua eterna amada. Era um amor tão doce - e ainda o é - que não foi capaz de destruir uma bela amizade. Pena que ela não lerá estas palavras...

Mas voltando à cena, era um dia importante para ele e sua amada estava mais preocupada em afastar as amigas dele do que em compartilhar aquele momento único e mágico.

Acho que ele nunca percebeu.

Mas a vida é assim mesmo. Somente nós podemos tirar o cabresto de nossos olhos.

Um amigo sugeriu Raul Seixas. Disse que existem algumas coisas em comum. Posso dizer que, hoje, existem muitas coisas em comum entre À Espreita e Medo da Chuva.

Espero que compreendam.

Raul Seixas - Medo da Chuva

É pena
Que você pensa que eu sou escravo
Dizendo que eu sou seu marido
E não posso partir
Como as pedras imóveis na praia
Eu fico ao teu lado sem saber
Dos amores que a vida me trouxe
E eu não pude viver

Eu perdi o meu medo
Meu medo, meu medo da chuva
Pois a chuva voltando pra terra
Traz coisas do ar
Aprendi o segredo
O segredo, o segredo da vida
Vendo as pedras que choram sozinhas
No mesmo lugar

Eu não posso entender
Tanta gente aceitando a mentira
De que os sonhos desfazem
Aquilo que o padre falou
Porque quando eu jurei
Meu amor eu traí a mim mesmo
Hoje eu sei que ninguém neste mundo
é feliz tendo amado uma vez
Uma vez

Eu perdi o meu medo
Meu medo, meu medo da chuva
Pois a chuva voltando pra terra
Traz coisas do ar
Aprendi o segredo
O segredo, o segredo da vida
Vendo as pedras que choram sozinha
No mesmo lugar
Vendo as pedras que sonham
Sozinhas no mesmo lugar

13 abril 2006

À espreita

Tu estavas feliz ao lado dela
mas o teu amor ela não retribuía
o beijo que saía de tua boca
ao rosto dela não chegava
pelo ar, seguia...

Seguia até encontrar os meus lábios
que teu quente hálito sentiam
era em minha boca que chegava
o amor que ela não queria.

Keila Sgobi
01/1999 (?)

Copyleft

12 abril 2006

Making of - Pássaros


ele quase me acertou!!!
eu fui mais rápida:
olhava para cima
e, como uma aranha,
meticulosamente tecia minha poesia
ligando os piolhos dos passarinhos
que pulavam de seus ninhos

- os piolhos e os
passarinhos.