25 junho 2006

É tudo vazio. Inclusive eu.

Sabe, eu gosto quase nada da Fernanda Young. Nada-nada. É que eu não me identifico com oseu modo de falar, lidar com as pessoas. Não me simpatizo com o seu jeito de ser demonstrado na TV ou coisa que o valha. Minha opinião. É só isso. Mas ouvi pensamentos muito interessantes desta escritora excêntrica. E concordei com eles.
Ela acredita na eternidade do amor. E o amor não é somente aquele amor do casório, é o amar de gostar de estar junto, de respirar junto, de colo, de cuidado, de brigas, carinhos, alegrias, amizades e tudo o mais. Uma mulher de 36 anos já viveu (leia-se sofreu) muitas dores, amores e horrores nesta vida.
O que me deixou mais confiante em meus pensamentos foi sua constatação sobre o ser adulto: ninguém nos avisa que é a pior fase de nossas vidas. A mais difícil e dolorosa. Infelizmente, a mais longa. Se a adolescência lhe pareceu dolorosa, tenha a certeza de que a vida adulta pode ser ainda pior. E eu já começo a vislumbrar o triste futuro.
Desde meus doze anos sei que a vida não é como desejamos e não corresponde ao nosso planejamento. O que esperava ter construído até os 24 anos ainda está pela metade: falta material de construção, um bom designer de interiores, este tipo de detalhe. Desde os 15 não faço planos para um futuro distante. Penso somente a curto prazo: meses, dois anos no máximo. Tem sido o suficiente para não me frustrar em demasia e lidar com as questões de ser humana física e existencialmente.
Pensar deste modo me permite olhar o sofrimento humano que é sempre presente (seja ele do passado ou futuro) e descrevê-lo como percebo, sinto. Esta dor é constante. As pessoas são solitárias, vivem um vazio existencial comparável a um buraco negro que tudo engole, inclusive quem (ou o que) o cerca e, para camuflarem seus flagelos e negarem o fado que construíram, protegem-se com uma casca oca que reluz falácias envolventes.
Anorexia. Bulimia. Vigorexia. Depressão. Estresse pós-traumático. Síndrome do Pânico. Câncer. Dermatites. Por dentro e por fora adoecemos para evitarmos o contato consigo e com o outro. Conhecer o próprio vazio é imensamente angustiante. O mais (in)sensato continua sendo negar. Esconder. Tapar. Ignorar.
Se ser poeta é negar esta existência, eu nunca fui poeta e nunca serei.
Amém.
"Você sabia que a probabilidade de uma pessoa morrer é maior se o vaso sanitário sob suas nádegas se estilhaçar do que se ela tentar suicídio?"

17 junho 2006

da aurora à solidão


E o dia fez-se noite.
O sol que animava as flores encolhidas
se foi.

Os pássaros se recolheram,
Estranhos ao anoitecer
Antecipado.

Nada era compreensível
Um vento frio começou a cortar a pele das crianças que brincavam nas ruas.
Todas assustadas.

Não ventara,
Não chovera,
Não chorara o dia todo.

Mas um ar sombrio e triste
Triste e sozinho
Animara-se repentinamente.


A noite escureceu
Despedindo as estrelas e a lua
Que tanto a incomodavam.

Sozinha, a menina sorria

Sorria ao vê-lo amar
E ser amado.

Mas as palavras são sempre mais afiadas que a espada
E a felicidade tornou-se tristeza
E o amor tornou-se solidão.

Seus doces olhos se umedeceram
Sem deixar que uma lágrima escorresse

E o dia fez-se noite
Sem fim de tarde colorido
Sem estrelas reluzindo
Cem noites de solidão.


Keila Sgobi de Barros
13/03/2005


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16 junho 2006

O menino

A criança olha para um lado
para outro,
para o pai,
onipotente,
sentado ao seu lado
e coloca,
disfarçadamente,
o dedinho no nariz.

Gira para a direita,
para a esquerda,
vai fundo...
Retira o dedinho
e desce,
vagarosamente,
para a boca.

Chupa o dedinho,
raspa com os dentes.

Então,
olha para o pai novamente
e repete o ato
inocentemente.

Keila Sgobi

25/06/2001

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15 junho 2006

temor

E eu sempre temendo
abrir os meus braços
envolver-te como tentáculos
agarram para sobreviver

escorregar minhas mãos
e sentir-te corpo inteiro
reconhecendo, sem exageros,
seus caminhos sem contra-mão

cheirar-te o rosto
provar-te o gosto
viver em gozo
ser abandonada pela manhã

meu desejo de engolir-te
e, quem sabe, possuir-te
para beijar-te, agarrar-te
e sentir-me plena de amor

sempre temendo, eu temi
e nada pude impedir:
perdi teu corpo, teu cheiro, teu gozo
pago com a alma o preço do meu temor.


Keila Sgobi
02/02/2006

(Copyleft)

14 junho 2006




"Deitei-me sobre teu peito
e ouvi algo estranho...
tum-tum
tum-tum

Olhei-te.

O olhar
plácido,
concentrado em meu
rosto.

Não compreendi.

Deitei-me,
novamente,
sobre teu corpo.
E o som se repetiu:
tum-tum
tum-tum.

Perguntei o que te afligia.
Respondeste-me com um beijo.

E fiquei a ser beijada,
ouvindo as batidas
de teu apaixonado coração
que faziam tremer meu corpo
minha alma
minha razão."


Keila Sgobi

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10 junho 2006

Nosso canto...

"Meu canto é meu canto
ao querer estar em teu canto.
encantada pelo teu encanto, eu canto
ao encontro do nosso canto"

Prevejo nosso canto
acariciado pelo vento de nossas asas
semeando os quatro cantos
desta terra mal fadada

asas que revoam juntas
por este concreto separadas
ecoando nossas vozes
nesta dolorosa jornada
propagando o amor poético

nosso canto imortal


Keila Sgobi
10/06/2006


(Copyleft)
Leia também "nosso canto", de Octávio Roggiero Neto.

08 junho 2006

Ao meu amigo Poeta

por nós, em uma tarde de outono...



Às vezes,
um pássaro abre a porta de nossa
gaiola,
estende-nos as asas
e nos convida a
voar...

Porém,
não podemos enxergar
e permanecemos a
esperar...


Keila Sgobi
(Octávio Roggiero Neto)

junho/2006


(Copyleft)

04 junho 2006

Ao meu poeta...

Censurado.

Mudei de idéia.

Precisa de importantes retoques que sou incapaz de realizar agora.

Solidão

Solidão.

Uma voz
ausente
do outro lado da
linha.

Frio latente
Solidão presente.

E minh'alma se resfria
do amor que sentia...
E chora,
pois ainda sente.


Keila Sgobi

(Copyleft)