A cada dia, estamos em um diferente ponto da órbita do Sol. Há alguns meses, acordava na escuridão; hoje, sou recebida pelas sombras do amanhecer. São pequeninas mudanças diárias que, se tomadas separadamente, causam grande tormento.
Assim é na vida vivida: um olhar, uma palavra, um sorriso e está feita a revolução; ausências e presenças cotidianas que aqui estão (ou não) feito pílulas de luz: o estoque é consumido, nos esquecemos de um ou outro comprimido e, quando nos damos conta, estamos na mais completa escuridão.
Se mudar é essência, donde vem o comando da busca pelo estável, imutável e, portanto, impossível de se alcançar?
Talvez o sistema econômico atual necessite de insatisfeitos para se manter. Assim, ele pode vender soluções mágicas que sempre estiveram conosco, em nossas relações com o mundo.
Compreender a vida e aceitá-la em sua inteireza pode nos permitir viver o presente aqui e agora, sem projeções ou culpas; sem angústia, ansiedade, depressão, pois a busca pelo impossível é fadada ao fracasso, uma profunda dor muitas vezes desnecessária.
Daí sentirmos e sermos nossa liberdade: a natureza e as relações não são condicionantes de nossas escolhas, mas co-constituem a vida. Somos livres na medida em que conseguimos acessar a essência do viver no mundo, do viver as relações e nos colocamos ativamente na escolha e ação. Escolher a busca pelo estável, imutável e eterno quando se é tomado pela sua impossibilidade,também é liberdade: liberdade de não querer viver mudanças e de tentar impedí-las.
A natureza não é imutável. A vida não é eternamente estável. Viver é, essencialmente, em sua imensidão, incontrolável.
KSB, 30.9.2016
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